Meu avô nasceu em Miguel Pereira, cidade serrana do interior do Rio, no dia 27 de setembro de 1930, dia de São Cosme & Damião. Durante a infância morou em um casebre no meio da mata e ainda adolescente mudou para São João para morar com a irmã que por lá trabalhava como empregada doméstica. Entre um e outro bico aprendeu a profissão de mecânico, a qual se dedicou durante toda a vida. Ainda bem jovem casou com a minha avó e teve apenas uma filha de sangue, minha mãe. Porém, apesar da falta de grana, por muitos anos cuidou das filhas de outros parentes que tinham a vida ainda mais difícil.
Foi proprietário de um ônibus antes da era da máfia do transporte público dominar a Baixada, e viu seu negócio falir porque deixava todo mundo que “estava precisando” fazer as viagens sem pagar. Simples, humilde e doce. Me ensinou muito sem usar muitas palavras. E por incontáveis vezes fez o papel de pai pra mim. Quando, por exemplo, em 1993 colocou toda a família dentro de seu Fusquinha 79 e me deu de presente de aniversário uma visita à concentração da seleção brasileira, que disputava as eliminatórias para a Copa do Mundo vencida em 1994.
Meu avô estava sempre feliz, sempre sorrindo. Um homem feliz e justo, que se sentia bem ao lado das pessoas mais humildes e se preocupava apenas com as coisas simples da vida: um Fusca, o Flamengo e a família. Isso era tudo para ele. Um senhor de quase oitenta anos que viveu toda a vida de maneira simples e feliz como um moleque, talvez pela influência da data de seu nascimento. Creio que seja isso.
Há cinco anos meu eterno avô subiu de cargo, ganhou o título de bisavô. E assim que a bisneta Polyana aprendeu a falar provou que dele herdou a vivacidade e o bom humor, apelidando o bisavô de Besouro.

Tchau, meu Besouro.